segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Andarilho do cerrado

Um andarilho vinha roçando o pé nas pedrinhas brancas e cristais dos caminhos do cerrado.

Embevecido pelas muitas águas e os desenhos impossíveis que elas traçam carinhosamente em rochas duras, vencidas por suave e paciente insistência. Iluminado pelo sol que se deixa, humilde, encobir por densas nuvens ligeiras, que derramam angústias sobre os ombros calejados do homem e sua mochila carregada tão somente do necessário.

E seguia o andador renovado pelo vento que sopra livre, penteia a mata, bagunça cabelos e dança com galhos torcidos e negros de pequis, ingás e bacuparis.

Clareado de lua cheia, salpicado de estrelas, encardido de chão.

Caminhava pela chapada, pelo planalto, pelo sertão, braços dados com seus amores, entre banhos de sol, rios e chuvas, entre risos e abraços, cachoeiras e remansos. E ao seu redor, e por sobre, e por dentro, pulsava a presença indisfarçável do criador e sua graça extravagante, revelada nas visagens, cheiros e sabores do cerrado.

E via o andarilho que tudo isso era muito bom.

2 comentários: